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Alumni Além-Fronteiras: Pedro Veiga Martins
25-05-2020

Pedro Veiga Martins tem 38 anos e é natural de São João da Madeira. Depois de completar os estudos em Engenharia Informática no ISEP, emigrou para a Alemanha, onde vive há mais de oito anos. É engenheiro de software, uma função que pretende continuar a desempenhar, independentemente da área de foco da empresa. Gostava de se dedicar mais ao hobby de horticultura e de o aliar à informática e robótica. Regressar a Portugal é uma questão que surge frequentemente quando visita o país mas, por enquanto, não faz parte dos planos.

- Porque escolheu o ISEP para estudar?

Sempre tive uma curiosidade inata pelas ciências naturais e por tecnologia. Sem certezas sobre o que queria ser quando "fosse grande", estive indeciso entre biologia, medicina ou informática. Ganhou a informática. Isto foi em 1999, quando a Internet e as Tecnologias da Informação estavam a tornar-se acessíveis para todos e, como tal, a assistir a uma enorme expansão. A cidade do Porto era a mais próxima da minha terra com instituições de ensino superior e as opções mais recomendadas para informática eram o ISEP e a FEUP. Tendo obtido média final suficiente para me candidatar a ambas, e com base no que entendi sobre as instituições, escolhi o ISEP como primeira opção.

- Do que mais sente saudades do tempo de estudante?

Da energia da juventude, das aventuras pela cidade do Porto... e, de certa forma, da liberdade própria de uma altura em que as responsabilidades eram simples, comparando com as da vida adulta.

 - Algum colega ou docente o marcou durante a formação no ISEP?

Vários docentes, colegas e funcionários(as) marcaram positivamente o meu percurso. Vou realçar o professor Filipe Pacheco, responsável pelo meu primeiro contacto prático com a programação. Com uma grande paciência e uma atitude amigável, soube ensinar e motivar, o que, talvez, tenha cimentado o meu gosto pela informática num ano que me foi bastante difícil a nível de integração. Mais tarde, no final da licenciatura, voltou a ser meu docente na disciplina de Tecnologias Multimédia que, por coincidência, acabaria por lançar a minha carreira profissional visto ter-me permitido aprofundar conhecimentos práticos específicos nas tecnologias necessárias ao meu primeiro emprego (na altura, a linguagem ActionScript e o Adobe Flash).

-  Voltaria a optar pelo mesmo curso?

Sim, pois permitiu-me alcançar os meus objectivos profissionais, e, no final, é isso que importa! Imagino que nestes últimos 20 anos muito tenha mudado no panorama do ensino superior em Portugal e acredito que o curso de Engenharia Informática melhorou alguns dos focos que achei menos interessantes.

- Desde 2012, assume responsabilidades fora de Portugal. Como foi a integração?

Com a excepção da língua, que ainda é uma grande dificuldade, a integração na Alemanha foi relativamente natural e habituei-me rapidamente ao estilo de vida nesta sociedade. A moeda é a mesma, encontram-se muitos produtos conhecidos nos supermercados. A gastronomia tradicional não é tão diversa e rica como em Portugal, mas pareceu-me acessível o suficiente para não criar um choque (com algumas exceções como o “Mett” – carne de porco crua picada no pão, que ainda hoje não toco). 

- Que grandes diferenças encontrou relativamente a Portugal?

É uma sociedade muito burocrática e menos flexível do que a portuguesa, o que, talvez, seja interpretado como antipatia e frigidez. Não existe o conceito de pequenos favores ou de um "desenrasque" fora das regras. Não há um sistema de saúde público como o SNS e tudo tem um preço associado.

Sinto que há um maior respeito entre os cidadãos de diferentes estratos sociais, de diferentes profissões ou de diferentes estilos de vida. Creio que também há menos discriminação racial, de género, sexual ou religiosa - pelo menos de uma forma perceptível. Outra surpresa foi em relação aos Domingos e o quanto são valorizados. É uma dia estimado para atividades de lazer, especialmente ao ar livre, mesmo estando frio, e a maior parte do comércio está fechado por lei, incluindo centros comerciais. E não é frequente as pessoas deitarem lixo para o chão, com exceção de adolescentes mais rebeldes ou de turistas.

- O que mais o motiva no seu trabalho?

Como programador, é gratificante a possibilidade de criar algo potencialmente útil que poderá resolver um problema, ajudar ou entreter alguém e, dessa forma, melhorar um pouco a sua vida. E tudo apenas baseado na manipulação e interpretação de informação nas suas diversas formas. É fascinante como a informática evoluiu nas últimas décadas, se pensarmos que apenas impulsos eléctricos num processador se traduzem na complexidade que estamos habituados a ver em ecrãs nos dias de hoje.

- O que é que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Passo imenso tempo ao computador a jogar, a explorar a internet ou a estudar novidades para aplicar no meu trabalho. Mas destaco a jardinagem, em especial produtos comestíveis, desde diferentes malaguetas até vegetais como beterrabas, couves e alfaces, mas também plantas decorativas. É muito gratificante acompanhar o desenvolvimento de uma semente até ficar uma planta robusta. Também gosto de cozinhar pratos mais exóticos, mas nem sempre corre bem! Quando o tempo está mais acolhedor, gosto de fazer caminhadas por espaços verdes ou dar umas voltas de bicicleta.

- Se pudesse mudar algo no mundo...?

É difícil de condensar num só tópico aquilo que gostaria de ver mudar no mundo. Mas, talvez, o ponto chave esteja na mentalidade das pessoas. Gostaria que nós, humanos, pudéssemos alcançar um modo de vida em perfeita harmonia uns com os outros e com o meio ambiente, e que todos - por escolha própria e não por imposição! - contribuíssemos para o bem-estar global. Gostaria que todos tivessem recursos e um espaço para viverem da forma que os faça felizes, sem que isso prejudique o vizinho. Sei que isto é pura utopia, mas permitam-me sonhar...!

- Que mensagem deixa aos futuros engenheiros do ISEP?

É um cliché mas, realmente, prestem atenção também às aulas teóricas! Apesar de, muitas vezes, serem aborrecidas e nos parecerem inúteis, vão fazer sentido mais tarde.